Smart City

Smart Cities: o que podemos aprender com a Europa?

Crédito foto dariohead

Especialistas da Suíça e da Estônia contam ao IT Forum prioridades para tornar uma cidade inteligente

11:27 am – 28 de agosto de 2024

O conceito de Smart Cities, em um primeiro momento, parece estar ligado direta e unicamente à tecnologia, mas essa não é exatamente uma verdade. As cidades inteligentes são aqueles nas quais a sociedade tem infraestruturas tradicionais e modernas como pilares para o crescimento econômico sustentável e qualidade de vida.

Nesse contexto, o ranking “Smart City Observatory”, realizado pelo IMD, coloca Zurique em primeiro lugar em uma lista de 142 cidades inteligentes. A cidade pontuou acima da média em todos os requisitos de infraestrutura, como a satisfação do transporte público; a maior parte das crianças com acesso a boas escolas e espaços “verdes” satisfatórios.

Na parte tecnológica, o mesmo acontece, com destaque para TI sendo ensinada na escola básica, acesso on-line aos dados de finanças da cidade para diminuir a corrupção e relatórios digitais de problemas da cidade para promover uma solução rápida.

Para entender o ranking, o IT Forum conversou com o Prof. Christos Cabolis, economista-chefe e head de operações do IMD World Competitiveness Center. “O que perguntamos aos moradores de uma cidade é a percepção deles sobre uma série de coisas diferentes. Pegamos essas percepções, padronizamos usando o índice de desenvolvimento humano e colocamos em uma classificação específica, tentando avaliar como os moradores se sentem sobre a cidade em que vivem”, explica ele.

O Brasil também está no ranking, representado por três cidades: Brasília (130º), São Paulo (132º) e Rio de Janeiro (133º). Em uma lista de 15 prioridades para a sociedade, o top 3 é bastante similar nas três cidades:

Brasília

  • Serviços de saúde: 79%
  • Segurança: 73%
  • Transporte público: 59%

São Paulo

  • Segurança: 80%
  • Serviços de saúde: 69%
  • Desemprego: 46%

Rio de Janeiro

  • Segurança: 81%
  • Serviços de saúde: 70%
  • Transporte público: 49%

“O Brasil é muito interessante, porque as duas primeiras áreas que os moradores de todas as três cidades brasileiras escolheram foram serviços de saúde e segurança. Então, se você me perguntar, por exemplo, no Rio de Janeiro, é preciso ver as estruturas na área de mobilidade, já que os moradores dizem que é um grande problema o congestionamento de trânsito e o transporte público”, exemplifica o especialista.

De acordo com o Prof. Cabolis, as autoridades das cidades deveriam pensar o quão seguras são as cidades ou quão convidativo é o transporte público e o serviço público. “Falamos sobre o Rio de Janeiro, mas em São Paulo temos praticamente a mesma imagem e Brasília também”, alerta ele.

Por outro lado, ele diz que o governo está se esforçando para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Em São Paulo, por exemplo, são fornecidas informações sobre o congestionamento de trânsito online. “Ou seja, não é que as autoridades não tentem resolver o problema. É que o problema pode ser muito maior e eles precisam melhorar esses componentes”, pondera.

Ainda assim, o Prof. Cabolis é enfático ao dizer que a tecnologia deve ser usada para melhorar a qualidade de vida dos moradores. “Então, mesmo que eu viva em uma cidade em que o prefeito fornece tecnologia, mas que eu não uso ou é completamente inútil, eu posso ser crítico sobre isso. É sobre a tecnologia que realmente melhora a qualidade e a prosperidade dos moradores e, portanto, é aqui que os aspectos humanos da nossa classificação entram em cena.”

Suíça e Estônia no protagonismo das Smart Cities

Se Zurique está em primeiro lugar no ranking, não teria uma pessoa melhor para conversar sobre ela do que Philipp Siegenthaler, gerente de projetos Smart City da prefeitura de Zurique. Ao IT Forum, ele contou detalhes sobre o que seu time, que conta com seis pessoas e trabalha há quatro anos, faz para melhorar a qualidade de vida de seus moradores.

“Quando as pessoas falam sobre Smart Cities, elas sempre pensam em colocar sensores em todos os lugares, carros voadores e deixar tudo conectado, como uma mistura de Blade Runner e Star Trek. Mas esse não é o nosso entendimento do que é uma cidade inteligente. Smart Cities é, antes de tudo, sobre atender as necessidades das pessoas e, hoje em dia, muitas vezes isso envolve aplicar soluções tecnológicas. Mas não precisa ser puramente impulsionado pela tecnologia”, frisa ele.

Por outro ângulo, os dados são uma oportunidade para alavancar as ações das empresas. Ao menos é isso o que acredita Ott Velsberg, Chief Data Officer da Estônia. A capital do país, Tallinn, figura no 24º lugar do ranking e, para ele, o uso eficaz e o gerenciamento dos dados permitem o fornecimento de novos serviços públicos que não existiriam de outra maneira.

“O foco está na criação de um estado personalizado. Serviços proativos, personalizados, transparentes e confiáveis ​​que são oferecidos sempre que se tornam relevantes para sua vida, com menos intervenção (se desejado) e maior controle sobre o que acontece com você”, afirma ele. Segundo o CDO, a governança eletrônica tradicional requer a contribuição de uma pessoa ou, em modelos menos avançados, deixa a pessoa apenas como um consumidor passivo no final da cadeia de serviços.

“O modelo de serviço baseado em eventos de vida permite maior automação, com suporte de inteligência artificial, para ajudar os humanos a identificar padrões e dependências cruzadas. Com IA e pesquisas deliberadas de satisfação do cliente, a renovação contínua dos serviços é alcançada, tornando a entrega de serviços ágil e ajustável às necessidades atuais da sociedade”, completa ele.

Siegenthaler também aposta na IA para melhorar a qualidade de vida dos moradores de Zurique. Segundo ele, atualmente a prefeitura está com alguns pilotos em execução para entender o que será possível escalar, principalmente nas questões de segurança de dados.

Um dos projetos é focado no departamento escolar. Segundo o especialista, a administração central das escolas recebe 50 a cem pedidos de contatos em seu site perguntando diferentes coisas, desde o cardápio da escola na próxima semana até o porquê de matemática ser ensinada de determinada maneira. Agora, a IA está sendo estudada para encaminhar essas perguntas para as pessoas certas, que realmente podem respondê-las.

“E o outro projeto é para ajudar as pessoas que trabalham com o mapeamento em Zurique. Eles têm os planos, mas, historicamente, eram planos em papel de cada área, edifício, entre outros. Eles foram digitalizados e estão em PDF, mas ainda não é muito útil, porque é preciso buscá-los manualmente. Agora, estamos trabalhando com soluções de reconhecimento de imagem visual para treinar um sistema capaz de ler os planos. Dessa forma, você pode ir para um gêmeo digital estendido e ver como o distrito se desenvolveu nos últimos cem anos”, comenta ele.

Entretanto, para que tudo isso funcione, é essencial que o governo tenha a segurança de dados como prioridade zero. “Como os dados e a inteligência artificial impactam cada pessoa que vive na Estônia, é crucial garantir que todos tenham habilidades e conhecimentos fundamentais sobre dados e IA. As pessoas precisam entender seus direitos e obrigações dentro deste contexto. Elas devem estar cientes dos riscos associados ao compartilhamento e processamento de dados, diferenciar entre conteúdo gerado artificialmente e conteúdo real, e muito mais. Estabelecemos metas ambiciosas de atingir 80% de alfabetização elementar em dados até 2030”, pondera Velsberg.

Brasil como Smart City

E, se no Brasil ainda não temos projetos tão ambiciosos ou bem-sucedidos, não é tarde para começar. O Chief Data Officer da Estônia recomenda ao governo colocar os cidadãos e a criação de valor público no centro de todos os esforços de transformação. “Só então você será capaz de fornecer serviços mais inteligentes e significativos.”

Siegenthaler concorda e diz que é necessário começar pequeno e ouvir as necessidades das pessoas antes de desenvolver e entregar novos serviços governamentais, porque, muitas vezes, isso e feito em um ambiente fechado.

“Muito dinheiro e tempo são investidos na criação de soluções, especialmente soluções digitais, e quando é lançado não funciona porque ninguém ouviu o usuário ou perguntou ao usuário o que ele precisa. Não foi testado. E eu acho que todo mundo pode fazer isso, seja em um projeto maior ou menor. Para nós, é muito sobre aprender e não sobre criar a solução perfeita na primeira tentativa. Isso é algo que leva tempo para mudar, especialmente no governo, porque historicamente também é muito burocrático e monolítico”, diz.

Segundo ele, há muitos tópicos para se trabalhar, como educação, mobilidade e energia, dependendo do contexto. “É preciso aprender a usar a tecnologia como um meio e não como o objetivo final. Talvez eu nunca possa fazer inovação começando com tecnologia. É sempre uma má ideia”, finaliza ele.

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Laura Martins

Jornalista com mais de dez anos de atuação na cobertura de tecnologia. É a quarta jornalista de tecnologia mais admirada no Brasil, pelo prêmio “Os +Admirados da Imprensa de Tecnologia 2022” e tem a experiência de contribuições para o The Verge.

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Fonte: ItFórum

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