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Desafios do Transporte Público: sustentabilidade e modernização em foco

Imagem cedida pela NTU

O transporte público no Brasil enfrenta uma série de desafios financeiros, operacionais e estruturais que comprometem sua sustentabilidade a longo prazo. Em entrevista, Francisco Christovam, diretor-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), revelou os principais entraves que o setor enfrenta e apontou possíveis soluções para revitalizar o transporte coletivo no país. Nos últimos dez anos, o setor de transporte público de passageiros viu uma queda significativa na demanda, com uma redução de 44,1% no número de passageiros pagantes, de acordo com o Anuário NTU 2023-2024. Christovam destacou que essa redução foi agravada pela pandemia de Covid-19, com a popularização do home office, o aumento do e-commerce e o crescimento da educação a distância (EAD). “O transporte público de passageiros tem enfrentado desafios financeiros significativos, especialmente nos últimos anos, marcados por uma perda substancial da demanda”, afirmou. O setor, que ainda depende majoritariamente das tarifas pagas pelos usuários para cobrir os custos operacionais, enfrenta um desequilíbrio econômico. Atualmente, apenas 30% dos custos operacionais são cobertos por subsídios governamentais, enquanto em países europeus esse percentual chega a 55%. “Embora o número de cidades que subsidiam o transporte tenha crescido, isso ainda é insuficiente para garantir a sustentabilidade financeira a longo prazo”, explicou Christovam.

Impactos da Pandemia e Recuperação

A pandemia de Covid-19 devastou o transporte público no Brasil, com a redução de até 80% na demanda de passageiros em algumas cidades. Mesmo com políticas públicas de subsídio ao transporte, como a adoção da tarifa zero em algumas localidades, a recuperação do setor ainda é um grande desafio. “Durante a pandemia, uma combinação de fatores como a adoção do home office e o fechamento temporário de atividades econômicas impactou fortemente o setor”, explicou. Para reverter a situação, a NTU defende a aprovação de um novo Marco Legal do Transporte Público, em tramitação no Congresso Nacional, que pode ser fundamental para revitalizar o setor e reconquistar os passageiros. “O desenvolvimento de políticas públicas e a criação de um marco regulatório são passos essenciais para garantir a sustentabilidade do transporte público no Brasil”, acrescentou.

Sustentabilidade e Novas Tecnologias

A implementação de sistemas de transporte mais sustentáveis é outro desafio. O custo elevado de tecnologias, como os ônibus elétricos, e a falta de investimento em infraestrutura, como faixas exclusivas e corredores de ônibus, dificultam a transição para um modelo mais verde. “A descarbonização da frota tem grande potencial para reduzir as emissões de carbono, mas o custo de um ônibus elétrico pode ser até três vezes maior do que o de um convencional”, afirmou Christovam. Além disso, a falta de uma política nacional clara para a transição energética no transporte público limita a efetividade das iniciativas.

A NTU defende uma abordagem ampla que inclua ônibus movidos a biocombustíveis, gás natural, hidrogênio e energia elétrica, conforme as necessidades regionais”

Francisco Christovam, diretor-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU)

Integração de Modais: Um Desafio de Mobilidade Urbana

A falta de integração entre diferentes modais de transporte continua sendo um dos maiores obstáculos para a mobilidade urbana no Brasil. Nas regiões metropolitanas, muitas cidades não possuem redes integradas de ônibus, metrô e trens, o que resulta em tempos de viagem mais longos e custos mais altos para o usuário. “A ausência de uma integração adequada faz com que o passageiro tenha que pagar mais de uma tarifa e enfrente dificuldades logísticas durante o seu trajeto diário”, explicou. Para melhorar essa situação, Christovam sugere a adoção de terminais multimodais, bilhetes únicos e a expansão de faixas exclusivas para ônibus. “A integração modal é fundamental para reduzir o tempo de deslocamento, melhorar a produtividade dos sistemas de transporte e, consequentemente, a qualidade de vida da população”, concluiu.

Modernização da Frota e Infraestrutura

Outro ponto importante é a necessidade de renovação da frota de ônibus no Brasil, que tem uma idade média de seis anos e cinco meses. A NTU propõe que o ideal seria uma idade média de cinco anos, para garantir que os veículos sejam modernos, confortáveis e menos poluentes. “A renovação da frota é essencial para garantir um transporte público de qualidade e ambientalmente responsável”, destacou. Para atingir essa meta, a NTU apresentou uma proposta ao governo federal, que inclui a renovação de um terço da frota atual com um percentual de 20% de ônibus elétricos. O custo estimado é de R$ 30 bilhões, e o governo federal já destinou R$ 10,6 bilhões para a renovação, por meio do novo PAC Seleções Mobilidade Urbana.

Acessibilidade e Inclusão

A acessibilidade também permanece um desafio no transporte público brasileiro. Apesar de boa parte da frota estar adaptada para pessoas com deficiência, a infraestrutura de calçadas, pontos de parada e terminais de ônibus ainda é precária. “A infraestrutura urbana precisa ser adaptada para garantir a acessibilidade plena aos serviços de transporte, com rampas de acesso e escadas rolantes nos terminais”, observou Christovam. O treinamento dos motoristas também é fundamental para garantir um atendimento inclusivo. “Os motoristas precisam ser capacitados para lidar com passageiros com necessidades especiais, promovendo um serviço mais inclusivo e de qualidade”, finalizou.

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