Chegada do 5G no Brasil prepara o país para se tornar uma potência econômica digital
O 5G ficará como legado para os próximos dez anos. Entrevista com Fábio Faria, Ministro das Comunicações (MCom)
Aos olhos e ouvidos do leigo, muito se fala, mas pouco se sabe sobre o que é, como funciona e quando será definitivamente instalada a Tecnologia G no Brasil. Antes de entrar nos detalhes, vamos entender melhor o conceito, o funcionamento da internet 5G e qual a tecnologia utilizada no Brasil. as cidades que ainda não atualizaram suas normas poderão, eventualmente, podem se respaldar no Projeto de Lei 8518/2017, aprovado na Câmara dos Deputados no dia 10 de maio e que trata do “Silêncio Positivo”. O texto prevê autorização para instalação de infraestrutura de telecomunicações em caso de não manifestação do órgão competente no prazo de 60 dias. A matéria foi remetida para o Senado Federal.
Conceito
É importante entender que há uma diferença entre o 5G DSS (com Compartilhamento Dinâmico de Espectro, da sigla em inglês) – avalizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em meados de 2020, quando as operadoras começaram a comercializar a tecnologia com o nome genérico de 5G – e a tecnologia 5G SA (Standalone), conhecida como 5G puro, comtemplada no leilão de radiofrequências realizado no final do ano passado.
O 5G DSS ainda utiliza estruturas do 4G e compartilha frequências com outras tecnologias (4G, 3G) para transmissão do sinal, perdendo, portanto, as características e potencialidades da 5ª geração de redes móveis. Já o 5G puro é até 100 vezes mais rápido que o atual (4G), mas o novo padrão não é apenas mais veloz. A quinta geração de redes móveis promete baixa latência — esse é mais um indicador de qualidade da conexão do que de velocidade. Em resumo, de uma máquina à outra, os dados tanto seguem quanto retornam com imensa velocidade, sem perda de informação.
Edital
Na implantação das redes 5G, as operadoras devem observar requisitos técnicos mínimos. De acordo com o edital do leilão, elas devem instalar redes que permitam a oferta de Serviço Móvel Pessoal (SMP) por meio de padrão tecnológico igual ou superior àquele estabelecido pela 3GPP, organização internacional responsável por criar os parâmetros do setor. Conforme a Anatel, o padrão tecnológico que será implantado no Brasil é, atualmente, o mais avançado.
Sobre cobertura 5G, o edital de licitação estabelece metas de densidade mínima de Estações Rádio Base (ERB), definida como a quantidade de estações por habitante do município. Quanto maior a densidade de ERB, melhor tende a ser a qualidade do serviço prestado e da velocidade. As metas aumentam gradualmente, conforme previsto no edital. Para as capitais e para o DF, a densidade mínima começa em uma ERB para cada 100 mil habitantes (ano 2022) e chega a uma ERB para cada 10 mil habitantes (ano 2025). Por esse motivo existe a necessidade dos municípios alinharem as suas legislações à Lei Geral de Antenas (Lei nº 13.116/2015) e ao Decreto 10.480/2020.
Para dar mais detalhes do processo de implantação 5G no Brasil, a revista Prefeitos&Gestões entrevistou Fábio Faria, Ministro das Comunicações do Brasil (MCom).
P&G: Quais são as vantagens da tecnologia 5G?
Fábio Faria: O usuário final viverá uma experiência única já que poderá acompanhar um filme pelos serviços de streaming, por exemplo, tão simultâneo quanto assiste pela TV. As videochamadas, transmissões de jogos, filmes e lives não terão mais aquelas indesejadas interrupções, pois que o tempo de transferência de dados será mínimo, entre 1 e 2 milissegundos (contra 32-52 milissegundos do 4G).
No entanto, os benefícios do 5G vão muito além do aumento de velocidade. A tecnologia vai ajudar a salvar vidas pois, com mais qualidade de som e imagem, a telemedicina avançará e os profissionais de saúde poderão avaliar, com rapidez, um paciente em outra cidade e até fazer um diagnóstico ou uma videoconferência com outros médicos em uma emergência.
Por outro lado, os grandes contratantes da tecnologia serão o agronegócio e as indústrias, em função do novo modelo de negócio que ela possibilita. A comercialização de redes privativas irá revolucionar toda cadeia de produção, englobando tanto os setores da agropecuária, transporte, segurança e logística, quanto os campos do e-commerce, do metaverso ou do ambiente de consumo.
A chegada de novas operadoras também promete maior concorrência e, consequentemente, melhor qualidade e preço. O leilão ampliou da concorrência no setor de telecomunicações incluindo no mercado brasileiro de prestadoras de serviço de telefonia móvel a Brisanet, o Consórcio 5G Sul, a Cloud2U, a Sercomtel e Winity II.
P&G: Quais os impactos da internet 5G nos 5.570 municípios do Brasil?
Fábio Faria: A nossa maior preocupação com o processo do leilão foi garantir internet para quem não tem. Ainda existem 40 milhões brasileiros que vivem sem qualquer opção de acesso à internet e queríamos abolir esse deserto digital.
A Anatel estipulou 9,8 mil localidades em todo o país sem acesso à internet. São comunidades com 30, 100 pessoas, que receberão, no mínimo, um padrão mínimo de internet 4G como contrapartida para as operadoras que arremataram os lotes de radiofrequência. No final, nenhum lugar do Brasil ficará sem internet.
P&G: Quantos e quais municípios já tem 5G no Brasil?
Fábio Faria: Ainda não há municípios conectados oficialmente com o 5G. O que existem são experiências que estão sendo realizadas em diversas cidades e também no campo. Vistamos algumas dessas iniciativas, como a fazenda Ipê, no Piauí, que é um exemplo de empreendimento inteligente.
Nas cidades de Uberaba, Uberlândia (MG) e Franca (SP), a Algar (uma das operadoras que arremataram lotes nacionais) instalou a tecnologia de quinta geração para redes móveis em dezembro do ano passado. Já a Brisanet também realizou demonstrações com o 5G em Natal (RN) para exibir as diferenças em relação à geração anterior.
A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) se comprometeu com a instalação, em caráter experimental, de luminárias munidas com antenas 5G e câmeras de vídeo nas cidades de Ceará Mirim (RN), Petrolina (PE), Araguaína (TO), Jaraguá do Sul (SC) e Curitiba (PR).
Com essas iniciativas, todas as outras operadoras terão que implementar ações para não perder espaço no setor de telecomunicações. Essa é a beleza do mercado livre.
P&G: A tecnologia 5g vai impulsionar o uso de IoT e IA? Explique.
Fábio Faria: A Internet das Coisas (ou IoT, da sigla em inglês Internet of Things) é a capacidade de equipamentos interagirem diretamente, gerando respostas independente da intervenção humana. A baixa latência é uma das principais características do 5G, que oferece uma profunda precisão viabilizando aos carros autônomos (sem motorista) trafegar se comunicando em tempo real com outros veículos, sem atraso na transmissão. Outras aplicações são a realização de cirurgias a distância, operação de diversas máquinas e drones simultaneamente, expansão de aplicações em realidade aumentada e operações
P&G: A tecnologia 5G vai trazer mais velocidade e estabilidade para as conexões?
Fábio Faria: Como dito anteriormente, a velocidade será de 10 a 100 vezes maior do que a do 4G. Em testes foi possível verificar velocidade de até 20 Gb/s. A baixa latência, tempo de resposta entre a emissão e recepção do sinal, é mais uma das principais características da tecnologia, além da possibilidade de conectar um número maior de aparelhos.
P&G: Se tiver algum outro aspecto que deseja destacar sobre a tecnologia 5G, fique à vontade.
Fábio Faria: Nós iremos passar por uma revolução tecnológica nos próximos anos. Serão afetados diversos setores econômicos, levando a um aumento de empregos, de renda e, consequentemente do PIB brasileiro.
Mas o principal fator que irá mexer, definitivamente, com as bases sociais do Brasil será a promoção de conexão para milhões de alunos de escolas públicas. O estudo técnico preparado pelo Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas (Gape), criado conforme previsto no edital do leilão do 5G, consolidou o diagnóstico da conectividade nas escolas públicas a partir da atualização de dados em 2022 e apontou que ainda restam cerca de 15 mil escolas sem internet no país.
Em abril, o Ministério das Comunicações (MCom) anunciou a instalação de novos 12 mil pontos de Wi-Fi Brasil em escolas da rede pública no país. O objetivo da pasta é finalizar o ano com 100% das escolas conectadas. As outras 3 mil escolas serão atendidas quando conseguirmos resolver o fornecimento de energia elétrica para elas. Para esses casos, contamos com o apoio do Ministério das Minas e Energia para atendimento por meio dos programas Mais Luz para a Amazônia e Luz para Todos.
Essas crianças e adolescentes poderão acessar conteúdos on-line, buscando fontes diversas de aprendizagem e capacitação. Isso é inclusão digital, valor que recentemente foi incluído no rol dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal. Essa é a verdadeira revolução: promover educação para todos!
BOX
Cronograma completo da instalação do 5G nos municípios brasileiros
1.174 mun. – Cronograma de atendimento a municípios com pop. igual (ou superior) a 30 mil hab.:
Até set/22: atender capitais e o DF (mínimo: 1 antena por 100 mil hab.);
Até jul/23: ampliar qtde de antenas nas capitais e no DF (mínimo: 1 por 50 mil hab.);
Até jul/24: ampliar qtde de antenas nas capitais e no DF (mínimo: 1 por 30 mil hab.);
Até jul/25: ampliar qtde de antenas nas capitais e DF + atender municípios com pop. igual (ou superior) a 500 mil hab. (mínimo: 1 por 10 mil hab.);
Até jul/26: atender municípios com pop. igual (ou superior) a 200 mil hab. (mínimo: 1 por 15 mil hab.);
Até jul/27: atender municípios com pop. igual (ou superior) a 100 mil hab. (mínimo 1 por 15 mil hab.);
Até jul/28: atender 50% dos municípios com pop. igual (ou superior) a 30 mil hab. (mínimo: 1 por 15 mil hab.);
Até jul/29: atender 100% dos municípios com pop. igual (ou superior) a 30 mil hab. (mínimo: 1 por 15 mil hab.);
4.396 mun. – Cronograma de atendimento a municípios com pop. inferior a 30 mil hab.:
Até dez/26: atender pelo menos 30% dos municípios com pop. inferior a 30 mil hab.;
Até dez/27: atender pelo menos 60% dos municípios com pop. inferior a 30 mil hab.;
Até dez/28: atender pelo menos 90% dos municípios com pop. inferior a 30 mil hab.;
Até dez/29: atender 100% dos municípios com população inferior a 30 mil hab.;
Atender 1.700 localidades não sede com 5G até dez/2030
Ressalta-se que não há um escalonamento para esse atendimento, todas as 1.700 localidades deverão ser atendidas até 31/12/2030.