Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Flores de cabelo-de-índio nascem 24 horas após queimadas naturais; pesquisadores brasileiros registraram descoberta da mais rápida floração.
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Fogo na floresta é sinal de alerta? Na maioria das vezes sim, mas no Cerrado o fogo pode ser aliado da biodiversidade. Isso porque é esse fator ecológico que, quando natural ou controlado, garante a fisionomia campestre característica do bioma.
Durante estudos de queima controlada na Reserva Natural Serra do Tombador (GO), pesquisadores e alunos da UNESP de Ilha Solteira e Rio Claro desvendaram um “mistério” da espécie cabelo-de-índio, planta amplamente distribuída no Brasil e muito comum no Cerrado.
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A espécie chama atenção por depender do fogo para florescer — Foto: Alessandra Fidelis/Arquivo Pessoal
“Realizando experimentos de queima, com interesse em estudar avaliar o efeito do fogo na floração das espécies, observamos que, no dia seguinte ao experimento, a cabelo-de-índio já começava a florescer”, lembra Alessandra Fidelis, uma das responsáveis pela pesquisa.
A floração em apenas 24 horas chamou atenção da equipe, que em 2017 realizou novos testes para avaliar o comportamento da planta com maior precisão. Assim, pesquisadores brasileiros foram responsáveis pelo primeiro registro científico da mais rápida floração, até então.
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Cabelo-de-índio é planta amplamente distribuída no Brasil — Foto: Alessandra Fidelis/Arquivo Pessoal
“Nossos estudos continuam, agora avaliando os fatores que levam a tal velocidade no florescimento. Para isso, estamos estudando o efeito do fogo na ecologia, anatomia e fisiologia dessa planta”, explica a pesquisadora, que destaca outra característica da espécie: ela floresce somente, ou na maioria das vezes, após as queimadas. “Nunca amostramos um indivíduo com flores em áreas que não queimam”, diz
Em áreas onde não pega fogo, dificilmente você encontrará indivíduos com flor e, se encontrar, apresentarão poucas inflorescências
Alessandra destaca outras espécies que, assim como a planta estudada, se regeneram rapidamente. “Nossos estudos indicam que há um pico de floração nos primeiros três meses pós fogo, principalmente entre as gramíneas”, conta.
Pesquisadores analisam efeito do fogo na floração das espécies — Foto: Vagner Zanzarini/Arquivo Pessoal
De olho no chão
De acordo com a pesquisadora, a rapidez na floração é uma prova de como o sistema está adaptado ao fogo. “A vantagem é que, logo após as queimadas, outras plantas que poderiam competir com a espécie ainda estão se regenerando, ou seja, produzir flores rapidamente dá a vantagem de dispersar suas sementes livremente”, explica.
A quantidade de sementes dispersas pelo vento, que germinam no solo descoberto, também servem de alimento para animais como as formigas, por isso, a bióloga ressalta: “Após o fogo, se você caminhar no Cerrado e olhar para o solo com bastante atenção, poderá ver muita coisa acontecendo”, relata.
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Fogo na floresta é visto como destruição, mas pode ser fator ecológico fundamental para algumas vegetações — Foto: Alessandra Fidelis/Arquivo Pessoal
Fogo amigo?
É antiga a discussão sobre a relevância do fogo para biomas como o Cerrado, no entanto, pesquisas apontam que, quando controlada, a queimada é fundamental para fortalecer o bioma.
“Recentemente foi publicado um trabalho mostrando que a exclusão do fogo acarreta na perda de 80% das espécies de plantas da savana e 90% das formigas, pois há uma substituição do sistema aberto para o florestal”, explica Alessandra, que destaca a importância de controlar o regime de fogo para a manutenção do bioma.
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A equipe continua em busca dos fatores que permitem tal velocidade no florescimento — Foto: Alessandra Fidelis/Arquivo Pessoal
“A distribuição do Cerrado está restrita e muitas áreas foram excluídas do fogo. Isso implica na descaracterização das fisionomias campestres, situação que afeta a maior parte da diversidade de espécies do bioma”, alerta a bióloga.
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Muitas herbáceas além de rebrotar, também florescem um mês após o fogo — Foto: Alessandra Fidelis/Arquivo Pessoal
Mesmo com tamanha importância, a doutora em ecologia não descarta a necessidade de fiscalizar a queima. “Sabemos que o fogo é um tema polêmico e todo mundo vê como destruição. Ele passa a ser prejudicial quando queima tipos de vegetação que são sensíveis a ele, como matas de galeria, floresta tropical, ou quando é feito numa frequência muito alta”, explica.
“Muito ainda tem que ser feito, por isso, experimentos de longo prazo têm tamanha importância. As pesquisas têm gerado muitos resultados relevantes para o entendimento dos efeitos do fogo no Cerrado”, completa Alessandra.
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Os estudos têm gerado resultados importantes para o entendimento dos efeitos do fogo no bioma — Foto: Alessandra Fidelis/Arquivo Pessoal
Novidade na ciência
A descoberta da velocidade da floração da espécie é resultado de experimentos de queima controlada na Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante (GO).
As informações iniciais compõem um artigo, publicado este ano, pelos pesquisadores Alessandra Fidelis, Liliane Camargos e Aline Martins, e pelos alunos Patrícia Rosalém e Vagner Zanzarini.
Fonte: G1